[Portuguese & English]
O impacto do Projeto DIALLS nos meus alunos
“A viagem da descoberta consiste em não achar novas paisagens, mas ver com novos olhos!”
Marcel Proust
Quando fui convidada a participar no Projeto DIALLS, não imaginava que iria envolver-me e gostar tanto de participar neste projeto. Também quando o apresentei à turma, não pensei que os alunos fossem aderir de forma tão entusiástica, ao ponto de me dizerem no final do período, que as aulas mais fantásticas eram as que envolviam as visualizações das curtas-metragens, os debates e eventuais trabalhos daí decorrentes.
Com efeito e como diz Marcel Proust “as paisagens”, neste caso, as temáticas já eram conhecidas, todavia com os filmes começamos a vê-las, a analisá-las, a discuti-las, a integrá-las no nosso dia com mais acuidade.
Partindo então destes pressupostos, gostava de refletir um pouco sobre os saberes que fomos desenvolvendo durante o período em que integramos, em boa hora, este projeto.
Como tive oportunidade de ir escrevendo na área de discussão, aconteceram factos inesperados, alguns até dolorosos, que nos ajudaram a enquadrar os temas, não só a discuti-los em abstrato, mas no concreto, na realidade dos nossos alunos. Foi um pouco como entrar na intimidade de cada um e trazê-la para cima da mesa e procurar no concreto soluções e ajudar aquela ou aquelas crianças em sofrimento. Foi particularmente penoso, numa sessão, uma aluna falar do seu caso particular de violência doméstica exercida sobre a mãe e sobre ela própria.
A realidade dos sem abrigo também gerou uma onda de solidariedade em todos os alunos com propostas de doação de alimentos e roupas para as instituições da cidade. Todavia, isto não pôde ser concretizado devido aos constrangimentos atuais existentes ao nível sanitário.
O tema do bullying, a propósito da curta metragem “La loi du plus forte” de Pascale Hecquet, também foi recorrente nas discussões e sempre com uma participação muito ativa por parte de todos os alunos. Os testemunhos partilhados fizeram-me pensar que é necessário parar e ouvi-los com muita atenção, pois quase sempre o silêncio e a timidez escondem um mar de sofrimento. E foram eles, mais uma vez, que chamaram a atenção para o facto de determinados alunos precisarem de apoio psicológico para ultrapassar determinados desafios.
Outros valores como a tolerância e a empatia fizeram sempre parte do cardápio, todavia foi na curta metragem “Super grand” que eles extravasaram mais as suas emoções. Quando foram questionados “Aqui na sala de aula somos sempre tolerantes?” interrogaram-se em que ocasiões podiam ser mais empáticos e tolerantes com os outros e em que situações.
O filme Bumerangue também foi um momento alto das nossas sessões, as gargalhadas fizeram-se ouvir e os comentários irónicos também não faltaram. Interrogados sobre a sustentabilidade do planeta, alguns alunos referiram que compete a esta geração olhar pelo futuro e desenvolver comportamentos mais sustentáveis. Todavia alguns não deixaram de referir que se vivia atualmente um ambiente de catástrofe e que seria muito difícil inverter esta situação, pois alterar comportamentos e modos de vida é bastante difícil. E foi neste contexto que surgiu a designação de “Geração Z”, porque Z é a última letra do alfabeto e são eles a última esperança, a última oportunidade de salvar o nosso planeta.
“Going Fishing” que vinha no seguimento da curta metragem mencionada anteriormente, também foi um vídeo bastante apreciado pelos alunos. Alguns, habitualmente mais reservados, trouxeram vivências passadas com os seus avós alertando para a necessidade de termos estilos de vida mais saudáveis e sustentáveis.
E se estes foram alguns dos filmes que geraram mais apreço e discussão, outros houve em que os alunos mais novos do 7º ano tiveram mais dificuldade em alcançar a mensagem. Por exemplo, a curta metragem “Free Art”, que os alunos do 9º ano consideraram refletir a importância da arte como um instrumento importante de protesto e intervenção na sociedade (a nível político, social, cultural e artístico), os alunos do 7º ano consideraram um filme de mais difícil de compreensão.
Foi assim um prazer enorme participar ativamente em todas as atividades propostas, partilhá-las com os alunos e debater sobre temas tão atuais. As curtas-metragens sem palavras foram sempre muito animadas à posteriori, pretextos para discutir diferentes temas culturais, estimulando as competências do diálogo e argumentação dos vários alunos envolvidos neste projeto.
Para ilustrar este pequeno texto, acrescento os testemunhos de alguns alunos de 7º ano que participaram desta experiência a todos os títulos inolvidável e quero acreditar marcante nas suas personalidades.
Tiago: “Estas curtas-metragens ajudaram-nos a entender os problemas do mundo e as dificuldades que certas pessoas passam e que nós não conseguíamos imaginar”.
João O. ”Estes vídeos fizeram-nos pensar que todos somos diferentes e iguais ao mesmo tempo, frase muito ouvida mas sempre atual e que não devemos esquecer.”
João R. “Este projeto, através dos filmes que visualizamos e debatemos, vai-nos influenciar no futuro e ajudar a ter uma maior sensibilidade para olhar o outro ao nosso redor”.
Lara: “Alguns filmes foram muito interessantes, no entanto alguns foram intrigantes, pois nem sempre conseguíamos captar a mensagem e só depois do debate percebíamos a intenção dos mesmos. Considero ainda que este método de ver um filme e dialogar acerca dele contribuiu de modo muito significativo para a nossa aprendizagem”.
Laura: “Gostei muito de alguns filmes, alguns até eram divertidos, outros nem por isso, mas todos nos ensinaram alguma coisa”.
Margarida: “Estas curtas metragens mostraram determinadas atitudes e comportamentos que devemos ter para sermos melhores pessoas”.
Manuel: “Diverti-me bastante a ver as curtas metragens e considero muito positivo o facto de todos passarem mensagens boas”.
Maria: “Emocionei-me algumas vezes, pois vi algumas cenas de violência que devemos evitar”.
Santiago: “Todos os filmes, na minha opinião, tinham um objetivo o que considerei muito interessante. Isso obrigou-nos a refletir e debater e a ouvir a opinião dos colegas”.
Poderia eventualmente deixar aqui registadas mais frases proferidas pelos alunos, mas de uma forma geral, vão todas no mesmo sentido: as curtas metragens foram momentos muito agradáveis e constituíram-se sempre como momentos de aprendizagem em que os valores da solidariedade, da inclusão, da empatia, da tolerância, do altruísmo, da igualdade, entre tantos outros, estiveram sempre presentes e espero terem contribuído para o seu desenvolvimento pessoal, cívico e social.
Resta-me desejar que, ao nível comportamental, estas curtas metragens com todos os ensinamentos adquiridos, ajudem os meus alunos a olhar o mundo que os rodeia de forma crítica, que as competências ao nível da literacia cultural que adquiriram possam fazer a diferença e torná-los pessoas mais felizes e interventivas num mundo global em que cada voz deve contar.
Por último, agradeço à equipa coordenadora deste Projeto DIALLS, no qual tive o privilégio de participar prazerosamente com os meus alunos.
Maria de Lurdes Pedro Castanheiro
Professora de Português
Escola Secundária de Ponte de Sor
The impact of DIALLS on my students
“The journey of discovery consists in not finding new landscapes, but seeing with new eyes!”
Marcel Proust
When I was invited to participate in the DIALLS Project, I didn’t imagine that I would get involved and enjoy participating in this project so much. Also when I introduced it to the class, I didn’t think that the students would join so enthusiastically, to the point of telling me, at the end of the term, that the most fantastic classes were those involving the viewing of short films, debates and the artefacts arising therefrom.
Indeed, as Marcel Proust says “the landscapes”, in this case, the themes were already known, however with the films we started to see them, to analyse them, to discuss them, to integrate them into our day-to-day routine with more acuity.
Starting from these assumptions, I would like to reflect a little on the knowledge that we developed during the period in which we were part of this amazing project.
As I had the opportunity to write in the discussion area, unexpected events happened, some even painful, which helped us to frame the themes, not only to discuss them in the abstract, but in the concrete, in the reality of our students. It was a bit like getting into each other’s intimacy and bringing it to the table and looking for concrete solutions and helping children in distress. It was particularly painful in a session for a student to talk about her particular case of domestic violence on her mother and herself.
The reality of the homeless also generated a wave of solidarity in all students with proposals to donate food and clothes to the city’s institutions. However, this could not be achieved due to the current health constraints.
The theme of bullying, regarding the short film “La loi du plus forte” by Pascale Hecquet, was also recurrent in the discussions and always with a very active participation on the part of all students. The shared testimonies made me think that it is necessary to stop and listen to them very carefully, as silence and shyness often hide a sea of suffering. And it was they, once again, who drew attention to the fact that certain students need psychological support to overcome certain challenges.
Other values such as tolerance and empathy have always been part of the menu, however it was in the short film “Super grand” that they vented their emotions the most. When asked “Are we always tolerant here in the classroom?” they wondered when they could be more empathetic and tolerant of others and in what situations.
The Boomerang film was also a high point of our sessions, laughter was heard and ironic comments were also present. Asked about the sustainability of the planet, some students mentioned that it is up to this generation to look to the future and develop more sustainable behaviours. However, some did not fail to mention that there was currently a catastrophic environment and that it would be very difficult to reverse this situation once changing behaviours and ways of life can be quite difficult. And it was in this context that the designation “Generation Z” came up, because Z is the last letter of the alphabet and they are the last hope, the last opportunity to save our planet.
“Going Fishing”, the shortfilm that followed the one above mentioned, was also a video that was very much appreciated by the students. Some, usually more reserved, brought past experiences with their grandparents, warning of the need for healthier and more sustainable lifestyles.
And if these were some of the films that generated the most appreciation and discussion, there were others in which the younger students of the 7th year had more difficulty in reaching the message. For example, the short film “Free Art”, which 9th grade students considered to reflect the importance of art as an important instrument of protest and intervention in society (at the political, social, cultural and artistic level), 7th grade students considered a film more difficult to understand.
It was therefore a great pleasure to participate actively in all the proposed activities, share them with students and debate on such current topics. Short films without words were always very animated a posteriori, pretexts to discuss different cultural themes, stimulating the skills of dialogue and argumentation of the various students involved in this project.
To illustrate this short text, I add the testimonies of some 7th grade students who participated in this unforgettable and striking.
Tiago: “These short films helped us to understand the problems of the world and the difficulties that certain people are going through that we could not imagine”.
João O.:” These videos made us think that we are all different and equal at the same time, a phrase that is often heard but always current and that we should not forget.”
João R.: “This project, through the films we have seen and discussed, will influence us in the future and help to have a greater sensitivity to look at others around us”.
Lara: “Some films were very interesting, however some were intriguing, as we were not always able to get the message and only after the debate did we realize their intention. I also believe that this method of watching a film and talking about it contributed in a very significant way to our learning process”.
Laura: “I really liked some films, some were even fun, others not really, but they all taught us something”.
Margarida: “These short films showed certain attitudes and behaviours that we must have in order to be better people”.
Manuel: “I had a lot of fun watching the short films and I think it is very positive that everyone sends good messages”.
Maria: “I was moved a few times, because I saw some scenes of violence that we should avoid”.
Santiago: “All films, in my opinion, had an objective which I found very interesting. This forced us to reflect and debate and listen to the opinion of colleagues”.
I could possibly leave here more testimonies by the students, but in general, they all go in the same direction: the short films were very pleasant moments and were always moments of learning in which the values of solidarity, inclusion, empathy, tolerance, altruism, equality, among many others, have always been present and I hope they have contributed to their personal, civic and social development.
It remains for me to wish that, at the behavioural level, these short films with all the lessons learned, help my students to look at the world around them in a critical way, that the skills in cultural literacy they have acquired can make a difference and make them happier and more interventional people in a global world in which every voice must count.
Finally, I would like to thank the coordinating team of this DIALLS Project, in which I had the privilege of happily participating with my students.
Maria de Lurdes Pedro Castanheiro
Portuguese teacher
Escola Secundária de Ponte de Sor (Seconday School of Ponte de Sor) / Portugal