[Portuguese & English]
Como lidar com questões sensíveis? (8-11 anos)
Na 1ª pessoa
Numa das Escolas onde implementei o projeto existe um elevado número de alunos provenientes de outras etnias e nacionalidades. Numa turma de 3º ano, com um total de 21 alunos, 3 alunos são de nacionalidade brasileira, 4 de nacionalidade angolana e 2 alunos de etnia cigana, o que perfaz um total de 9 alunos. Mais de um terço da turma… muito próximo da metade…
Ao trabalharmos a sessão 4 «Super Grande», os meninos visionaram o filme com muita atenção. Pediram para ver novamente fazendo-se sempre acompanhar de um grande silêncio. Seguiu-se o diálogo acerca do filme, o que diferenciava aquele menino; como as pessoas reagiam a essa diferença; qual era a verdadeira intenção do menino grande; o motivo pelo qual as pessoas fugiam dele; o rejeitavam; enfim…um debate de ideias muito interessante e ativo.
No entanto quando debatíamos a questão: “O que podemos fazer para garantir que não julgamos as pessoas com base na sua aparência?” Um aluno pede a palavra. Um aluno de nacionalidade angolana e diz: «Devíamos começar aqui na escola…»
Pedi-lhe para desenvolver, fundamentar a sua ideia e, para espanto de todos, o menino de voz trémula e olhos quase a inundar, partilha com a turma que não gosta que usem a sua cor de pele para o chamarem de preto. E diz isto confessando que alguns colegas da escola, no recreio, muitas vezes o chamam de preto, inclusive um colega da sua turma, e diz o nome dele. E diz que ele o faz muitas vezes… Senti que queria ainda dizer, vezes demais…
Vi-me perante uma situação delicada, sensível e intolerável… Racismo.
Depois deste desabafo, surgiram outros, por parte dos restantes alunos, os que representam mais de um terço, a quase metade. Todos na 1ª pessoa. Conversámos, partilhámos ideias, reforçamos a importância de tolerar a diferença, aceitar, não julgar, de nos colocarmos no lugar do outro. Pensámos no filme… Pediram-se desculpas…
Como professora senti que estava a lidar com emoções e fragilidades reais, que teria de ter alguma sensibilidade na forma como conduzir o diálogo. E socorri-me do plano das instruções da aula, adaptando algumas das questões relativamente ao filme, e a diferença daquele menino grande, à diferença em questão: a cor da pele.
Pensei, por instantes, que estaria a falhar, que a aula não tomara o rumo que devia ter tomado… Mas depressa afastei esses pensamentos. Depressa agarrei outros. Não, a aula não falhou. O filme envolveu, transportou os alunos, à tomada de consciência das diferenças que existem, de como nos assustam, de como nos podem ferir ou levar a ferir o outro. Mas essencialmente, levou-nos a pensar em conjunto, nas formas de dar a volta, de agirmos, de partilharmos…
E assim, naquela aula, pensámos e vivemos a Tolerância e a Empatia, na 2ª pessoa do plural…Nós.
Professora Ana Castelo
Agrupamento de Escolas do Montijo – Portugal
Addressing sensitive issues in a DIALLS classroom (8- 11 years)
In the 1st person
In one of the Schools where I implemented the project there is a high number of students from other ethnicities and nationalities. In a 3rd year class, with a total of 21 students, 3 students are Brazilians, 4 students are from Angola and 2 students are Roma, making a total of 9 students. More than a third of the class…very close to half…
In Session 4 ”Super Big”, the children watched the film very attentively. They asked to see it again, always accompanied by big moments of silence. They talked about the film, what made that boy different; how people reacted to that difference; what his true intention was; why people avoided him; why they rejected him; in general…a very interesting and active share of ideas.
However, when discussing the question: ”What can we do to ensure that we do not judge people on their appearance?” A student from Angola says:
“We should start here at school…”
I asked him to develop and substantiate his idea and, to everyone’s astonishment, the boy with a trembling voice and eyes almost flooding, shares with the class that he doesn’t like people using his skin colour to call him Black. And he says this by confessing that some classmates at school, in the playground, often call him Black, including a classmate in his class, and say his name. And he says that he does it often… I felt that he still wanted to say, too often…
I was faced with a delicate, sensitive and intolerable situation… Racism.
After this statement, there were others from the other students, which represent more than one third, almost half. All in the first person. We talked, we shared ideas, we reinforced the importance of tolerating difference, of accepting, of not judging, of putting ourselves in the other’s shoes. We thought about the film… Apologies were made…
As a teacher I felt that I was dealing with real emotions and real weaknesses, that I would have to have some sensitivity in how to conduct the dialogue. And I used the lesson plan, adapting some of the questions, to the difference talked about in my class: skin colour.
I thought for a moment that I was failing, that the lesson had not taken the direction it should have taken… But I quickly pushed those thoughts away. No, the lesson did not fail. The students were engaged, the film made them aware of the differences that exist, how they scare us, how they can hurt us or lead us to hurt others. But essentially, it led us to think together, about ways to turn around, to act, to share…
And so, in that class, we thought and lived Tolerance and Empathy, in the 2nd person plural…not ’me’ but ’we’.